sexta-feira, 18 de janeiro de 2008

Rota dos túneis - Pela linha de Barca d´Alva a La Fregeneda

Este ano o Pedro Oliveira, deu-nos a conhecer mais uma rota. Desta vez vamos deixar os trilhos e terra para começar a andar de bicicleta sobre carris. E assim foi que surgiu a ideia de fazer a rota dos túneis. Esta rota consiste em andar pela desactivada linha do Douro. Andando em território nacional a linha desactivada vai desde o Pocinho a Barca d´Alva. Em terras de “nuestros hermanos” o percurso é de Barca d´Alva à aldeia de La Fregeneda.


Breve história da linha ferroviária do Douro

A linha do Douro foi o primeiro testemunho da vontade, capacidade técnica e engenho dos portugueses na construção de caminhos-de-ferro. Os portugueses foram responsáveis pela construção da ponte de Entre-os-Rios (a primeira com desenho português) e a do Pocinho (a primeira construída pela industria portuguesa).

A criação da linha ferroviária do Douro tinha como principal objectivo a ligação de Portugal ao resto da Europa, bem como aproximar as duas maiores cidades portuguesas (Lisboa e Porto) a fim satisfazer as necessidades da Revolução Industrial.

Em 1852 foi criado o criado o ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria.

A linha ferroviária do Douro – Porto S.Bento / Barca D´Alva, tem 202,200 km de extensão e desenvolve-se na sua maior parte junto às margens do rio Douro. Actualmente, esta linha liga o Porto ao Pocinho com a extensão de 174,200 km.


A nossa experiência


28 de Dezembro

Estava uma sexta-feira invernil, quando, pelas 14 hora começámos a nossa aventura. Quando se trata de passear somos todos pontuais!

Tratar dos últimos apetrechos, como por exemplo, o garrafão do vinho, arranjar arame para podermos ouvir música na nossa raimona (carrinha do clube), e já agora as nossas bagagens e ... as bicicletas.
Poderia ser o comboio, mas eram mesmo as biclas!

Seguimos rumo ao IC8 e depois para a A23. Sempre a velocidade de Cruzeiro a 130 km hora. Grande carrinha para não apanhar multas de excesso de velocidade!

Da Guarda para a frente assumi os comandos da raimona e no meio de estradas em obras e apertadas, com o nevoiro serrado, lá seguimos até Barca d ´Alva!

Passámos Pinhel, Figueira de Castelo Rodrigo e passadas 6 horas de viajem chegámos ao nosso destino!

Já tinhamos o nosso jantar e a dormida reservados! Pois no que trata de comida não podemos falhar!

E assim começámos o nosso jantar de bacalhau à casa regado com bom vinho! Rápidamente nos integrámos com o vinho da região... 2 ... 3 ... 4 ... 5 litros, não me lembro, estava muito frio e congelou!!! Ou muito quente que nos permitiu ir para a rua e admirar a ponte que liga o distrito da Guarda ao de Bragança .... a Ponte sobre o Rio Douro.

E assim estávamos em reunião junto ao Cais.

Neste cais chegam, durante a época alta, entre o desflorar da amendoeira e
o mês de Outubro, os barcos turísticos cheios de gente rica!!! É a vida! andar de cruzeiro não é pra todos, e pagar cerca de 300 € por dois dias ... bem bem sempre é melhor andar na raimona a velocidade de cruzeiro!

Depois da contemplação da Ponte ainda fomos até ao quarto e a festa continuou pela noite dentro. entre risadas e mais um copo adormecemos!

Ainda antes de adormecer descobri que havia um membro da nossa equipa que tem uma religião estranha! depois da festa é tempo de contemplar o São Gregório no seu altar Sanitário!


Boa Sorte! Mas tem cuidado que essa religião dá cabo do fígado!

29 de Dezembro

Estava uma manhã fria, cerca de 2 graus positivos, quando começámos a preparação da nossa viajem.
Tomar o pequeno almoço ... Aqui é preciso ter cuidado com a alimentação, pois há quem diga que não se deve fazer misturas ... mas como na noite anterior prevaleceu o vinho ... bem, comam o que quiserem !
Ver a pessão dos pneus, afinar travões, lubrificar a transmisssão .... e fazer o aquecimento ...


Com tudo pronto aqui vamos nós... para a nossa vizinha Espanha!

O nosso grupo pelo Pedro Oliveira, Pedro Lopes, Paulito e Elisa

Atravessámos o rio Águeda, e em terra de "neuestros hermanos" foi só subir, dos 115 metros em Barca d´Alva para os 483 em La Fregeneda", sempre pela "carratera" SA-517.
Mais menos a meio do percurso encontrámos uma grande rota, que nos encaminhava para um percurso pedestre. Como já estávamos fartos de alcatrão optámos pela GR 14. E é sempre bom cruzar caminhos que não os premeditados. Ficámos a saber que nesta zona do Douro Internacional há muitos percursos pedestres que podem ser adaptados em trilhos fantásticos de BTT... Fica o desejo de lá voltar!
Alcançámos La Fregeneda ao meio dia. Entrámos num café típico de Espanha, o que é o mesmo que dizer - todo sujo. O Pedro como gosta de provar comidas novas comeu uma delíciosa sandes de farinheira... pois é Pedro o espanhol tem destas coisas... nunca sabemos se nustros hermanos estão-nos a tratar bem ou a preparar alguma... Bom apetite! pelo menos uma coisa ainda conhecemos bem: a cerveja Mahou. E vira mais uma!

Terminada a refeição foi procurar a estação de La Fregeneda, pois esta esta um pouco distante do pueblo... seguimos pela estrada de alcatrão durante 2 kms e virámos à esquerda por um trilho de terra. mais 2 km e encontrámos a estação no meio da vegetação.

Estação La Fregeneda
A primeira imagem que temos desta estação é de haver em tempos muito movimento, a julgar pelo tamanho da estação e das infra-estrutura. E não será de esperar - estávamos na primeira estação da primeira ligação ferroviária entre Portugal e Espanha.

Parece que a velha estação nunca esteve sózinha. pois os vândalos andaram por cá! O ser humano tem desta coisas!



Tirar mais uma fotografia de Grupo e temos que nos fazer aos carris.

Todavia ainda houve alguém que nos avisasse que deveriamos fazer esta aventura.


Seguimos guiados pelos carris oxidados, rumo a uma paisagem magnífica, que Miguel Torga classificou como "poema geológico". Sob forma de penetrar pela literatura desenhada na rocha entramos no primeiro túnel. Aqui temos tempo, não para ler, não se vê nada, mas para sentir o cheiro húmido, que sai das pedras. Desfrutámos desta paisagem escura durante 1,5 km até alcançármos aquela luz pequena ao fundo, sinal de que atravessámos uma grande montanha.

...
...
...
...
...
...
...
...
E o tempo passa ... e vai passando e eu sem concluir o que vos queria contar. Será que ainda me lembro... sim sim sim ...
...
...
são experiências que não se esquecem e, com muita pena minha, desde esta aventura ainda não fiz mais nenhuma estravagância ... mas está para breve!!!







Após atravessarmos o túnel n-º com uma extensão de 1,5 km começámos a avistar lindas paisagens montanhosas, sempre com a vista, ao fundo, do rio Águeda, que ainda aparenta ser uma pequena ribeira ...
Parace tudo muito bonito e incrivelmente facil até termos que desafiar os nossos medos. ... até encontrarmos a primeira ponte completamente degradada ...

... sempre com o medo a atormentar ... lá segui a pensar que tantas outras pontes que já tinha atravessado dentro do combio intercidades... mas nunca tinha tido o privilégio de sentir o ar fresco ... e o sentimento de vitória depois da travessia ...





Mas nós não estávamos numa competição, a única coisa que nós queriamos vencer seria, mesmo o nosso medo. Estas conquistas vão-se fazendo com um voto de confiança. Neste aspecto o nosso amigo Pedro Oliveira, teve um papelão.... e deu grande prova de ser amigo ei-lo que atravessou as pontes o dobro das vezes que nós .... sim porque ele voltou muitas vezes atrás para ir buscar as bicicletas dos amigos de viagem...
Seguimos a nossa viagem dos carris e encontrámos a vertiginosa ponte de Poyo Valiente, onde as travessas de madeira à muito tinham sido devoradas pelas chamas. O que tornou a travessia ainda mais tenebrosa. Esta ponte curva tem 45 metros de extensão e 16 metros de altura, o que obriga a que se fizermos a passagem pela parte esquerda vamos ter que enfrentar um fosso que nos leva ao rio Águeda. Rio esse que separa os dois países hibéricos, proporcionando uma vista fantástica.
Depois de atravessar mais uma ponte e mais um túnel e mais uma ponte .... estava a anoitecer e ainda estávamos na linha. A juntar a dificuldade da travessia das pontes estamos perante o factor luz. pois a Lua não nos dava muita confiança ... encontrámos a primeira estrada de terra que ligava a linha a La Fregeneda e eu dei logo a ideia de abandonar o percurso e seguir por trilho de terra... e assim foi .... até que chegámos a Barca d´Alva fomos jantar ao Peralta em Escalhão e depois foi dormir. Esta noite não havia grandes apetites para farra, pelo menos pela minha parte... sim sim porque eu esta à rasca do meu pé e temia não conseguir prosseguir a caminhada.
Amanhã há mais...

Até já

30/12/2007 Estação Barca de Alva

Depois de uma noite bem dormida, o que eu previa acabou por se confirmar: não pude prosseguir a caminha da Ruta de los Tuneis. O Paulito continuou a sua dormida e eu como gosto de madrugar propûs ao Pedrão a à Elisa ir, na carrinha, deixá-los onde tinhamos ficado no dia anterior. E assim foi, não consigo eu, mas pelo menos duas pessoas conseguem lutar pelo seu objectivo.

Mas eu não me fiquei por aqui a chorar a minha fraqueza. Não ando de bike, mas ainda tenho força no pé para pôr a "raimona" a rodar.

Andei pelo meio das carreteras e tirei algumas fotografias que vos vou mostrar.


Infelizmente, ainda tenho que vos mostrar o elevado estado degradante da estação de Barca d´Alva. Pela estrutura dava para entender que era um ponto muito importante para o Douro Interior e para Portugal

A manhã fresquinha ainda me possibilitou visitar o posto de turismo onde recolhi alguma informação, um quisoque com artesanato regional e um com doçarias e vinhos da região e tudo muito bem apresentado por gente muito simpática.

Ainda tive a oportunidade de falar com o senhor Manuel que mostra com orgulho a esposição relativa à linha e recorda com saudade o tempo em que os comboios apitavam e seguiam rumo ao Porto e rumo a Paris.
Dizia ele "nos tempos do comboio Barca tinha muito movimento ... agora estamos aqui abandonados e só passam os turistas e são os do Barco no Douro. ... Nasci com o combio, vi-o morrer, e pode ser que mesmo depois de velho ainda o veja renascer..." Dizia o homem com o brilho nos olhos mostrando a esperança na cimeira entre o governo português e espanhol, que aconteceu em Dezembro passado!!!!

Talvez um dia os comboios voltem a circular pelas encatadas margens do rio Douro e do Águeda!